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O termo “Iluminismo” designa um movimento marcado pela busca da libertação do homem de todas as tradições e normas que não passassem pelo crivo da razão. Trata-se, portanto, um processo marcado pela autonomia da razão e pela progressiva racionalização do mundo. De acordo com a célebre afirmação de Kant, essa época seria “a época da Crítica, à qual tudo deve se submeter”. No campo da religião, temos um processo de secularização e de questionamento dos dogmas, que devem passar pelo exame livre e público da razão. No campo da filosofia da história, temos um pensamento acerca da perfectibilidade do homem e a crença no progresso da humanidade que deveria ser conduzida pela razão. No campo das ciências naturais, completa-se um desenvolvimento que conduz da Escolástica para a Ciência Moderna, que não mais se baseia nas autoridades, mas tem como fundamento a observação, experimentação e a lógica.

 

Como bem salientou Ernst Cassirer, a mesma clareza exigida no discurso filosófico e científico passa a ser exigida também nas artes. Fortemente marcada pelo caráter de uma poética, a estética clássica procurou estabelecer os princípios de concepção da arte. Neste sentido, duas teses devem ser enfatizadas: 1) tanto a produção como a apreensão de uma obra de arte devem ser guiados pela razão; 2) a noção de beleza tem um sentido objetivo, ou seja, é propriedade do objeto artístico. Também as relações entre arte e natureza devem ser salientadas aqui. Embora a arte continue a ser considerada como imitação da natureza, deve-se salientar que a noção de natureza da estética clássica é completamente distinta da noção aristotélica. Temos aqui a matematização da natureza e, da mesma forma que a natureza estava submetida a leis eternas e imutáveis, da mesma forma deveriam existir leis para as obras de arte. Isso pode ser visto de maneira exemplar na obra de Rameau (1683-1764), que pela retomada da tradição pitagórica (via Zarlino) buscava estabelecer o princípio da harmonia, fundamentada em leis matemáticas, como alicerce da arte musical como um todo. Como bem observou Thomas Chistensen, “Rameau estava convencido, como bom cartesiano que era, que a música era governada por leis racionais, e que essas leis poderiam ser deduzidas com rigor geométrico a partir de um único princípio”.

 

No âmbito alemão, é a doutrina dos afetos que irá dominar a estética e práticas composicionais do período barroco. No entanto, não devemos confundir essa visão com a expressão subjetiva dos sentimentos do compositor. Segundo Georg Buelow, “compor música com uma unidade estilística e expressiva baseada num afeto era um conceito racional e objetivo, e não uma prática equiparável aos interesses do século XIX. O compositor barroco planejava o conteúdo afetivo de cada obra, seção ou movimento e esperava que a reação da plateia fosse baseada numa compreensão igualmente racional do significado de sua música”.

 

No campo da reflexão sobre as artes temos uma passagem das poéticas normativas para a Estética como disciplina autônoma. Ao invés do interesse por um conjunto de regras práticas para a execução de obras artísticas, vemos o surgimento das questões acerca do gênio e do efeito que a obra de arte deveria ter sobre seus espectadores. Esse novo campo da filosofia será consolidado por Kant, em sua Crítica da Faculdade de Julgar (1791). A estética kantiana, em última instância, pretende o reconhecimento de princípios relativos ao juízo de gosto, à atividade do gênio, à noção do belo e do sublime.

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