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In: IRIARTE, R. (Org). Música e literatura no Romantismo alemão. Org. trad. e notas R. Iriarte. Trad. Antonieta M. A. Lopes et alli. Lisboa: Apáginastantas, 1987.

 

 

 

A essência singular da arte musical e a psicologia da música instrumental contemporânea

 

Originariamente o som era uma matéria grosseira, na qual os povos selvagens se esforçavam por exprimir as suas paixões mais informes. Quando interiormente perturbados, rasgavam os ares circundantes com gritos e rufos de tambor, como que tentando o equilíbrio entre o mundo exterior e a sua revolta interior. Mas ao cabo de muitos séculos, a natureza incessantemente ativa conseguiu dissociar as forças da alma humana, inicialmente fundidas numa só, e construiu uma enorme teia de ramificações cada vez mais delicadas. Assim, também nos séculos mais recentes se construiu um sistema apurado a partir dos sons e se infundiu, não só nesta matéria, mas também nas artes das formas e das cores, uma imagem e um testemunho sensível do belo requinte e do aperfeiçoamento harmonioso do espírito humano atual. O raio de luz monocromo do som estilhaçou-se num fogo de artifício multicolor e resplandecente, onde cintilam todas  as cores  do  arco-íris; isto, porém, só  pode acontecer, porque  num tempo  anterior  vários homens

sábios desceram ata as cavernas oraculares da ciência mais oculta, onde a própria natureza omniparente lhes revelou as leis primeiras do som[1]. Destas criptas misteriosas os homens trouxeram à luz do dia a nova doutrina, escrita em números de significado profundo e compuseram, então, a partir de múltiplos sons individuais, uma ordem fixa e sábia, que constitui hoje a riquíssima fonte de onde os mestres extraem as mais diversas tonalidades.

A força sensível existente no som desde a sua origem adquiriu, através deste sistema erudito, uma variedade requintada.

Porém, o elemento obscuro e indescritível, que está oculto no efeito do som e não se encontra em qualquer outra arte, obteve, através deste sistema, um alcance maravilhoso. Uma simpatia indescritível manifestou-se, então, entre cada uma das proporções matemáticas do som e cada uma das fibras do coração humano, transformando a arte dos sons num mecanismo rico e dócil, adequado à representação dos sentimentos humanos.

Assim se formou o caráter singular da música atual, que é ainda, na sua perfeição crescente, a mais nova das artes. Nenhuma outra arte consegue fundir de modo tão enigmático estas qualidades da profundidade, da força sensível e do significado obscuro e fantástico[2]. E é em virtude desta estreita e notável união de qualidades aparentemente tão contraditórias que ela se orgulha da sua superioridade, se bem que essa mesma união tenha causado estranhas confusões no exercício e na fruição desta arte, assim como discussões vãs entre espíritos que nunca poderão compreender-se.

As profundidades científicas da Música atraíram muitos daqueles espíritos especulativos, rigorosos e penetrantes em todo o seu agir, que não procuram o Belo desinteressadamente, movidos por um amor puro e simples, mas que apenas o apreciam pelo acaso que permite poderem ser dele arrancadas forças especiais, raras. Em vez de acolherem o Belo com alegria, sempre que ele, amavelmente, cruza o seu caminho, estes espíritos encaram a sua arte como um inimigo perigoso e procuram combatê-lo com muita astúcia, triunfando, então, sobre a sua própria força. Graças a estes homens cultos, o mecanismo interior da Música alcançou uma perfeição admirável, tal como os tecidos produzidos por um tear artificial. Freqüentemente, porém, as suas obras de arte devem ser encaradas do mesmo modo que bons estudos anatômicos e difíceis posições acadêmicas no campo da Pintura.

É penoso verificar que muitas vezes este talento fecundo se perdeu num espírito acanhado e insensível. Num coração estranho, o sentimento fantástico, pouco eloqüente nos sons, suspira, então, pela união, - enquanto o poder criativo, que tudo pretende esgotar, parece não desdenhar envolver-se em experiências vãs com tais jogos dolorosos da natureza.

E no entanto, nenhuma outra arte, senão a Música, possui uma matéria prima tão impregnada de espírito celestial. A sua matéria sonora vai ao encontro das mãos que hão-de moldá-la, numa profusão ordenada de acordes, exprimindo sensações belas, ao mais leve e simples contato. Esta é a razão por que existem muitas peças musicais cujos sons foram combinados pelos seus mestres numa hora feliz, de um modo meramente correto, mas engenhoso, tal como os algarismos de uma operação aritmética ou as pedras de um mosaico; no entanto, ao serem tocadas num instrumento, exprimem uma poesia magnífica e cheia de sentimento, apesar de o mestre mal ter pensado que, no seu trabalho erudito, o gênio encantado no reino dos sons tornaria audível aos iniciados o magnífico adejar das suas asas.

Em contrapartida, muitos espíritos, não incultos, mas nascidos sob a influência de uma estrela infeliz e interiormente duros e impassíveis, manejam os sons tão desajeitadamente, arrancando-os dos seus lugares próprios, que nas suas obras apenas se percebe o lamento doloroso de um gênio torturado.

Mas quando a natureza benévola reúne sob um mesmo invólucro as almas artísticas separadas, quando o sentimento do ouvinte arde ainda mais entusiasticamente no coração do sapientíssimo mestre da Arte, e este infunde a própria ciência nestas chamas, então nasce uma obra indescritivelmente maravilhosa, onde o sentimento e a ciência se interpenetram de um modo tão firme e indissociável, como a pedra e as cores numa pintura de esmalte.

Não vale a pena falar daquelas almas estéreis, para quem a Música e todas as artes não passam de instituições, onde vão buscar o alimento sensível estritamente necessário aos seus órgãos prosaicos e grosseiros – uma vez que a expressão sensível deve ser encarada como a linguagem mais humana, forte e penetrante, na qual o Sublime, o Nobre e o Belo podem falar para nós. Elas deviam, se pudessem, venerar a santidade profunda e imutável que distingue esta arte das outras, de modo que nas suas obras a firme lei oracular do sistema, o brilho original do acorde perfeito, não possa ser apagado nem manchado pelas mãos mais abjetas – pois que a Música não é capaz de exprimir o que é desprezível, baixo e ignóbil no coração humano, podendo apenas oferecer melodias gritantes e toscas, às quais os pensamentos terrenos a elas associados emprestariam, então, a baixeza.

Mas quando os racionalistas perguntam onde se encontra realmente o centro desta arte, onde se oculta o seu verdadeiro sentido e a alma que dá unidade a todas as suas diversas manifestações, eu não sou capaz de o explicar ou demonstrar para eles. Quem quiser descobrir, com a varinha mágica da razão inquiridora, aquilo que só intimamente se pode sentir, descobrirá apenas pensamentos sobre o sentimento, mas nunca o próprio sentimento. Cavou-se um abismo eterno e hostil entre o coração sensível e as pesquisas científicas; ora o coração é um ser autônomo, reservado, divino, que a razão não pode abrir e soltar. – Tal como uma obra de arte só pode ser integralmente compreendida pelo mesmo sentimento que a produziu, assim também o sentimento só pode ser verdadeiramente compreendido pelo sentimento: - do mesmo modo, segundo a teoria do pintor, uma cor só mostra a sua verdadeira essência quando iluminada por uma luz da mesma cor. – Aquele que estraga as coisas mais belas e mais sagradas do reino dom espírito com o seu porquê e a sua insistente procura de causa e finalidade não se preocupa realmente com a beleza e divindade das próprias coisas, mas sim com os conceitos, que são os limites e os invólucros das coisas, com os quais constrói a sua álgebra. – mas, tenhamos a coragem de dizê-lo: aquele a quem o ímpeto do seu coração arrasta com toda a força, desde a infância, através do mar dos pensamentos, qual nadador audaz, direito ao castelo encantado da Arte, esse afasta de si, animoso, os pensamentos comparáveis a ondas perturbadoras, e penetra no santuário mais íntimo e toma plena consciência dos mistérios que sobre ele se precipitam. – Assim, atrevo-me a exprimir, vindo do mais íntimo de mim mesmo, o verdadeiro sentido da arte musical, e afirmo:

Quando todas as vibrações interiores das fibras do nosso coração – as trêmulas da alegria, as tempestuosas do êxtase, o pulsar veloz da ardente adoração, - quando todas elas dissolverem, num grito, a linguagem das palavras, esse túmulo da raiva interior, então renascerão em beleza transfigurada, sob um céu estrangeiro, nas vibrações de maviosas cordas de harpas, como que numa vida sobrenatural e, em formas angélicas, celebrarão o seu renascer[3].

Centenas e centenas de obras musicais falam de alegria e prazer, mas em cada uma canta um gênio diferente e com cada melodia estremecem diferentes fibras do nosso coração. – Que pretendem os racionalistas timoratos e desconfiados, que exigem a explicação por palavras de cada uma das centenas e centenas de obras musicais e não conseguem entender que nem todas têm um significado específico, como acontece na Pintura? Pretenderão eles aferir a linguagem mais rica pela mais pobre e reduzi-la a palavras, a ela, que despreza as palavras? Será que eles encheram o seu coração vazio apenas com descrições de sentimentos? Será que nunca perceberam no seu íntimo o cantar mudo, o baile de máscaras dos espíritos invisíveis? Ou será que não acreditam em histórias maravilhosas (Märchen)?

Um caudal de água servir-me-á de imagem. Nenhuma arte humana consegue por palavras tornar visível o fluir de uma torrente multiforme, composta por milhares de ondas baixas e altas, caudalosas e espumejantes. – Só com dificuldade a linguagem pode contar e nomear as modificações, mas nunca consegue representar visualmente as metamorfoses ininterruptas das gotas de água. E o mesmo acontece com o caudal misterioso nas profundezas do espírito humano[4]. A linguagem conta e descreve e nomeia as suas metamorfoses, usando uma matéria a elas alheia; - a Música confronta-nos com o seu fluir. Resoluta, agarra a misteriosa harpa e produz no mundo obscuro determinados sinais maravilhosos e obscuros, segundo uma determinada ordem, - e as cordas do nosso coração ressoam e nós compreendemos o seu som.

No espelho dos sons o coração humano aprende a conhecer-se a si próprio; é através deles que aprendemos a sentir o sentimento; eles dão consciência viva a muitos espíritos que sonham em recantos recônditos da alma e enriquecem o nosso íntimo ser com mágicos espíritos do sentimento, inteiramente novos.

E todos os afetos sonoros são regidos e dirigidos pelo árido sistema numérico científico, como por estranhos e milagrosos exorcismos de um velho e temível mago. Pois o sistema produz de forma admirável prodigiosas mudanças e metamorfoses dos afetos, nas quais a alma se espanta com a sua própria natureza: - analogamente à linguagem das palavras que, partindo por vezes de expressões e sinais dos pensamentos, irradia por reflexo novos pensamentos e orienta e domina as danças da razão no seu evoluir.

Nenhuma outra arte descreve os afetos de um modo tão artístico, tão audaz, tão poético e, exatamente por isso, para os espíritos indiferentes, tão forçado. A essência de toda a Arte está na condensação em múltiplas massas sólidas dos sentimentos que erram, perdidos, na vida real; ela separa o que está unido, une firmemente o que está separado, e nos limites mais estreitos e rigorosos elevam-se ondas mais altas, mais alterosas. E onde são os limites e os saltos mais marcados, onde se elevam as ondas mais alto do que na arte dos sons?

Mas nestas ondas flui apenas o ser puro e informe, o movimento e a cor e, sobretudo, a constante transição dos afetos; a Arte ideal e Angélica desconhece, na sua inocência, a origem e a finalidade da sua agitação, ignora entre os seus sentimentos e o mundo real.

Porém, e apesar de toda a sua inocência, esta arte, através da poderosa magia da sua força sensível, resolve todos os maravilhosos e imensos exércitos da fantasia, que povoam os sons com imagens mágicas e transformam as emoções informes em formas determinadas de afetos humanos, as quais passam pelos nossos sentidos como aparições mágicas de uma fantasmagoria.

Então podemos ver o divertimento saltitante, dançante, ofegante, que transforma cada pequena gota da sua existência numa alegria completa.

A satisfação branda, inabalável, que tece toda a sua existência a partir de uma visão harmoniosa e limitada do mundo, aplicando as suas convicções piedosas a todas as situações da vida, nunca modificando o movimento, polindo tudo o que é áspero e expulsando o colorido em todas as transições.

A alegria viril, jubilosa, que ora percorre todo o labirinto de sons em várias direções, tal como o sangue latejante e quente percorre, veloz, as veias, - ora se ergue às alturas, triunfante, com nobre orgulho, com ímpeto e elasticidade.

A languidez doce, nostálgica do amor, o contínuo crescer e decrescer da saudade, quando a alma, emergindo do seu terno deslizar, ao escutar sons vizinhos, se eleva nos ares, veloz, com suave ousadia e de novo desce, - partindo de um anseio insatisfeito se volta para outro anseio com uma voluptuosa amargura, descansa, com prazer, em acordes ternamente dolorosos, anseia eternamente pela dissolução e, por fim, desfaz-se simplesmente em lágrimas.

A dor profunda, que ora se arrasta como se estivesse acorrentada, ora geme com suspiros descontínuos, ora se desfaz em longos lamentos, percorre todo o tipo de dores, configura com amor as suas próprias dores e nas nuvens só raramente vislumbra tênues centelhas de esperança.

O capricho alegre, travesso, livre, é como um redemoinho que faz fracassar todas as formas sérias de sentir e brinca alegremente com os seus destroços – ou como um demônio grotesco que troa de toda a sublimidade humana e de toda a dor humana, por meio de uma imitação burlesca e, qual falso mago, se arremeda a si próprio – ou como um espírito etéreo, pairando inquieto, que arranca todas as plantas do solo firme da terra e as espalha nos ares infinitos, desejando volatilizar todo o globo terrestre.

Mas quem é que consegue contar e nomear todas as fantasias[5] etéreas, desencadeadas na nossa imaginação pelos sons, como sobras cambiantes?

E no entanto, não posso deixar de elogiar o último e supremo triunfo dos instrumentos: refiro-me às grandes e divinas sinfonias (produzidas por espíritos inspirados), onde não se encontra representada apenas uma forma de sentir, mas sim todo um mundo, todo um drama dos afetos humanos. Quero contar, em termos gerais, o que paira no meu espírito.

Ligeira e divertida na sua alegria, a alma feita de música emerge da caverna oracular – ela assemelha-se à inocência da infância, exercitando uma primeira e cobiçosa dança da vida que, sem o saber, graceja, passando por sobre o mundo inteiro, e apenas sorri à sua própria alegria interior. – Mas em breve as imagens em seu redor ganham uma consistência mais firme; ela ensaia a sua força num sentimento mais forte, ousa, de repente, precipitar-se no meio das águas espumosas, serpenteia através de todas as alturas e profundidades e faz rolar todos os sentimentos ora para o alto, ora para o fundo, num destemido arrebatamento. – Mas ai! Ela ousa penetrar em labirintos mais selvagens, procura, como uma temeridade audazmente conquistada, os horrores da tristeza, as amargas torturas da dor, para saciar a sede de sua força vital; e a um toque de trombeta, irrompem de todos os lados, com toda a força, em catadupa, todos os terríveis pavores do mundo, todos os exércitos do infortúnio e rodopiam, em formas distorcidas, uns por cima dos outros, terrivelmente, assustadoramente, como uma montanha que tivesse adquirido vida. No meio dos redemoinhos do desespero a alma quer elevar-se, corajosa, e conquistar uma altiva beatitude – e é sempre subjugada pelos terríveis exércitos. – Subitamente a força demoníaca é despedaçada, os pavorosos vultos desaparecem. – a antiga e longínqua inocência surge em dolorosa recordação, como uma criança saltitando tristemente, coberta por um véu, e em vão chama pelo passado, - a fantasia revolve confusamente alguns leves suspiros todo o mundo sonoro repleto de vida se desfaz no nada invisível, como uma aparição etérea, cintilante[6].

Então, quando fico muito tempo sentado, com o ouvido atento, numa quietude sombria, tenho a sensação de ter tido uma visão de todos os variados afetos humanos, em que eles festejam juntos e para o seu próprio prazer uma estranha dança pantomímica, quase louca, em que dançam insolente e perversamente, ao acaso, num horrível capricho, tal como as desconhecidas e misteriosas deusas mágicas do destino.

Esse louco capricho, mercê do qual a alegria e a dor, a natureza e a afetação, a inocência e a ferocidade, o gracejo e o horror se familiarizam na alma do homem e muitas vezes repentinamente se dão as mãos: - qual a arte capaz de representar no seu palco esses mistérios da alma com um significado mais oculto, misterioso e comovente?

Sim, a cada momento o nosso coração hesita perante os mesmo sons, não sabendo se a alma feita de música despreza corajosamente todas as vaidades do mundo e sente o desejo de elevar-se ao céu com nobre orgulho – ou se despreza todos os céus e todos os deuses e, num esforço arrogante, ambiciona apenas entregar-se a uma única felicidade meramente terrena. É justamente essa perversa inocência, essa obscuridade ambígua e terrível[7], como um oráculo, que transforma a arte dos sons numa verdadeira divindade para os corações humanos.

Mas porque desejo eu, tolo que sou, dissolver as palavras em Música? Elas nunca exprimem aquilo que sinto. Vinde, ó sons, acorrei e salvai-me desta dolorosa busca de palavras aqui na terra, envolvei-me nas vossas nuvens reluzentes com os vossos inúmeros raios luminosos e elevai-me ao alto, ao velho amplexo do céu todo-amante!

 

 


[1] O motivo da descida à caverna, fonte de um saber apenas acessível a iniciados, é um Leitmotiv na literatura romântica alemã, que tem um profundo significado no romance de Novalis Heinrich von Ofterdingen; mas podemos associa-lo também com a descida de Fausto às matrizes, na segunda parte do Fausto de Goethe. Segundo Wackenroder, do uno primordial nasce o múltiplo: e o desenvolvimento das complexas leis das proporções matemáticas, que regem a Música nas suas múltiplas manifestações, ocorre paralelamente com a tomada de consciência pelo homem da infinita riqueza da sua vida interior.

[2] A fantasia e o fantástico, conceitos fundamentais na literatura romântica, são aqui transpostos por Wackenroder para a Música.

[3] Torna-se claro que Wackenroder considera a linguagem verbal não só como imperfeita, mas até como o “túmulo da raiva interior”, associando-a, assim, à morte; ao passo que a sai conversão em Música representa um verdadeiro renascer. Poderá então parecer paradoxal a tentativa de verbalização da Música a que ele se dedica nos seus textos musicais, com particular relevo para este? Mas não haverá aqui igualmente uma tentativa de aproximar a palavra da Música, de musicalizar, isto é, libertar, tornar viva, a linguagem verbal?

[4] A insuficiência da palavra reside no fato de esta não ter acesso às mais profundas camadas do psiquismo humano, ao inconsciente; na metáfora do caudal de água, Wackenroder explicita a analogia entre o fluir da Música e o fluir de fenômenos psíquicos de outro modo inacessíveis à consciência ou dificilmente verbalizáveis.

[5] CF. nota n. 2.

[6] Contrariando a tradição do século XVIII, que dava o primado à música vocal relativamente à instrumental, Wackenroder faz aqui uma verdadeira apoteose da música instrumental, a que está mais desligada de uma matéria ou de um conteúdo veiculado através das palavras, mas, como música absoluta, é um espelho no qual a alma humana se contempla e reconhece no que de mais profundo e essencial existe no drama da existência.

[7] Wackenroder não só louva o lado luminoso da Música, como problematiza o seu lado obscuro, “ambíguo e terrível”. Este aspecto é desenvolvido em “Das merkwürdige musikalische Leben des Tonskünstlers Joseph Berglinger”(A estranha vida musical do compositor Joseph Berglinger), nas Herzensergiessungen, no contexto da problemática do artista.


                                             

 

 

 

 

  Wilhelm Heinrich Wackenroder (1773-1798)

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