
O gosto. Trad. Teixeira Coelho. São Paulo: Editora Iluminuras, 2009.
(Excertos)
Ensaio sobre o gosto nas coisas da natureza e da arte
São esses diferentes prazeres da alma que formam os objetos do gosto, tais como o belo, o bom, o agradável, o ingênuo, o delicado, o terno, o gracioso, o não sei o quê, o nobre, o grandioso, o sublime, o majestoso, etc. Por exemplo, quando sentimos prazer em ver uma coisa que nos é útil, dizemos que se trata de uma boa coisa; quando sentimos prazer em vê-la, embora sem nela distinguir real utilidade, a dizemos bela. (...)
Examinemos portanto essa alma, estudemo-la em suas ações e paixões, busquemo-la em seus prazeres: é aí que ela mais se revela. A poesia, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música, a dança, os diferentes tipos de jogos, as obras da natureza e da arte, enfim, podem dar-lhe prazer: vejamos por que, como e quando isso acontece; entendamos nossos sentimentos: isso poderá contribuir para a formação de nosso gosto, que nada mais é senão a vantagem de descobrir com sutileza e presteza a medida do prazer que cada coisa deve dar às pessoas. (...)
Dos prazeres da alma
É bom conhecer a fonte dos prazeres dos quais o gosto é a medida: o conhecimento dos prazeres naturais e adquiridos poderá servir para retificar nosso gosto natural e nosso gosto adquirido. É preciso partir do ponto em que se encontra nosso ser e saber quais são seus prazeres para poder avaliar esses prazeres e, por vezes, sentir esses prazeres.(...)
De início, seria possível pensar que para ter gosto bastaria conhecer as diversas fontes de nosso prazer, e que depois de lermos o que a filosofia tem a dizer a respeito, teríamos gosto e poderíamos nos atrever a julgar as obras. Mas o gosto natural não é um conhecimento teórico; é uma ampliação direta e requintada de regras que não conhecemos bem. Não é necessário saber que provém da surpresa o prazer que nos é dado por algo que consideramos belo; basta que nos surpreenda, e que nos surpreenda tanto quanto deve surpreender, nem mais nem menos.
Assim, o que podemos dizer aqui, bem como todos os preceitos que poderíamos dar para a formação do gosto, só podem dizer respeito ao gosto adquirido, isto é, só podem dizer respeito diretamente ao gosto adquirido, mesmo que indiretamente digam respeito ao gosto natural, porque o gosto adquirido afeta, muda, aumenta e diminui o gosto natural, tanto quanto o gosto natural afeta, muda, aumenta e diminui o gosto adquirido.(...)
A definição mais geral do gosto, sem considerar se se trata de um bom gosto ou de um mau gosto, um gosto adequado ou não, é que gosto é aquilo que nos liga a uma coisa por meio do sentimento, o que não impede que ele possa aplicar-se às coisas do intelecto, cujo conhecimento dá tanto prazer à alma que essa é mesmo a única felicidade que certos filósofos conseguem compreender. A alma conhece por meio das ideias e dos sentimentos, pois, embora possamos estabelecer uma oposição entre ideia e sentimento, quando a alma vê uma coisa ela a sente, e não há coisas tão intelectuais que ela não possa ver ou que acredite não ver e, por conseguinte, que não a sinta. (...)
Do espírito em geral
O espírito é o gênero do qual são espécies a engenhosidade, o bom senso, o discernimento, o senso de medida, o talento, o gosto.
Ter espírito consiste em ter as faculdades bem constituídas, relativamente às coisas às quais se aplica. Se essa coisa for extremamente particular, seu nome é talento; se está mais ligada a um certo prazer delicado das pessoas comuns, seu nome é gosto; se essa coisa particular é própria de um povo, e como tal única, o talento se diz espírito, como a arte da guerra e da agricultura entre os romanos, a caça entre os selvagens etc. (...)
Da curiosidade
A alma foi feita para pensar, isto é, perceber; para tanto, essa entidade deve sentir curiosidade pois, como todas as coisas estão numa cadeia na qual cada ideia precede outra e segue-se a uma terceira, não podemos ver uma coisa sem desejar ver uma segunda; e se não sentíssemos desejo por uma coisa, não sentiríamos prazer algum por outra. Assim, quando nos mostram parte de uma pintura queremos ver em seguida a parte ocultada, que nos dará um prazer proporcional àquele que tivemos com a parte vista.
Portanto, é o prazer proporcionado por um objeto que nos conduz a um segundo objeto; é por isso que a alma sempre procura coisas novas, e nunca se casa de fazê-lo.
Desse modo, sabemos que sempre daremos prazer à alma quando lhe dermos a ver várias coisas, ou mais coisas do que ela esperava ver. (...)
O que suscita em nós uma grande ideia é quando alguém diz uma coisa que nos leva pensar num grande número de outras coisas ou quando somos levados a descobrir depois de uma grande leitura. (...)
Dos prazeres da ordem
Não basta mostrar muitas coisas à alma: é preciso fazê-lo numa ordem, pois assim nos lembramos do que vimos numa ordem, pois assim nos lembramos do que vimos e começamos a imaginar o que veremos; a alma assim se felicita por sua amplitude e sua capacidade de penetração. Numa obra onde não exista ordem, a todo instante a alma sente perturbar-se a ordem que ela ali quer introduzir. A sequência que o autor preparou e aquela que na obra imaginamos confundem-se: desse modo a alma nada retém, nada prevê; sente-se humilhada com a confusão de suas ideias, com a inanidade em se percebe; fatiga-se em vão e não degusta prazer algum: é por isso que, quando o objetivo não é o de expressar ou mostrar a confusão, sempre se introduz ordem mesmo na confusão. Por isso, os pintores agrupam suas figuras; por isso, os que pintam batalhas põem no primeiro plano de suas telas as coisas que o olho deve distinguir, deixando a confusão para o fundo e o distante. (...)
Dos prazeres da variedade
As histórias nos agradam pela variedade do que contam; os romances, pela variedade dos prodígios narrados; as peças de teatro, pela variedade das paixões; do mesmo modo, aqueles que sabem instruir modificam, tanto quanto possível, o tom uniforme da instrução.(...)
A alma gosta de variedade; mas se gosta da variedade é porque, como dissemos, foi feita para conhecer e para ver: portanto, é preciso que ela possa ver e que a variedade lhe permita fazê-lo; quer dizer, é preciso que uma coisa seja simples o bastante para ser percebida e variada o suficiente para ser percebida com prazer.(...)
É preciso que as grandes coisas tenham grandes partes; os homens grandes têm braços, as grandes árvores têm grandes galhos e as grandes montanhas compõem-se por outras montanhas que estão acima e abaixo delas: é da natureza das coisas que assim seja.(...)
É por esse motivo que a pintura divide em grupos de três ou quatro as figuras representadas numa tela; a arte imita a natureza, uma tropa numerosa sempre se divide em pelotões; e é ainda por isso que a pintura divide em grandes massas seus claros e seus escuros.(...)
Dos prazeres da simetria
Eu disse que a alma gosta da variedade; no entanto, na maioria das coisas ela gosta de encontrar a simetria. Aqui parece haver uma contradição. É assim que a explico:
Uma das principais causas dos prazeres da alma, quando ela vê as coisas, é a facilidade de percebê-los; e a razão pela qual a simetria agrada à alma é que a simetria poupa-lhe esforços, alivia sua tarefa, por assim dizer divide a obra pela metade.
Daí decorre uma regra geral: ali onde a simetria é útil à alma e pode ajuda-la em suas funções, a simetria torna-se agradável; mas onde for inútil, torna-se enfadonha porque elimina a variedade. As coisas que vemos num movimento sucessivo devem ter variedade, pois assim a alma não sente dificuldade alguma em vê-las; pelo contrário, as que percebemos de um golpe de vista devem ter simetria. (...)
É da natureza que um todo seja algo completo; e a alma, que vê esse todo, não quer nele encontrar partes imperfeitas. Essa é mais uma razão para apreciar a simetria: o que se exige é uma espécie de ponderação ou equilíbrio: um edifício com uma ala, ou com uma ala mais curta que a outra, é tão incompleto quanto um corpo com um só braço ou com um braço curto demais.(...)
Dos contrastes
É preciso portanto introduzir contrastes nas atitudes, sobretudo nas obras escultóricas que, por natureza frias, só podem demonstrar um calor interno pela força dos contrastes e da situação.
Mas, assim como dissemos que a variedade que se procurou introduzir no gótico deu-lhe de fato uniformidade, verifica-se com frequência que a variedade que se procura armar por meio dos contrastes transforma-se em simetria e viciosa uniformidade.(...)
Muitos pintores caíram no equívoco de introduzir contrastes por toda parte, sem economizar, de modo que, quando vemos uma figura numa obra dessa espécie, a primeira coisa que fazemos é adivinhar a disposição daquelas que estão ao lado: essa continuada diversidade transforma-se em mesmice. Aliás, a natureza, que dispões as coisas numa grande confusão, não exibe a afetação de um contraste contínuo – sem mencionar que ela não põe todos os corpos em movimento ao mesmo tempo, e num movimento forçado. A natureza é mais variada que isso; alguns ela deixa em repouso e a outros dá diferentes modos de movimento.
Se a região da alma que conhece gosta da variedade, aquela que sente também a procura, pois a alma não pode sustentar por muito tempo as mesmas posições uma vez que está ligada a um corpo que igualmente não consegue suportá-las. Para que a alma se estimule, é preciso que os nervos sejam animados por um espírito, e aí acontecem duas coisas: uma lassidão nos nervos, ou uma quietude por parte do espírito que não mais se agita, ou que se dissipa dos locais por onde corria.(...)
Dos prazeres da surpresa
É também por essa razão que as peças teatrais nos agradam: elas se revelam gradativamente, ocultam os acontecimentos até que se produzam, sempre nos preparam novos motivos de surpresa e frequentemente nos espicaçam ao mostra-los de um modo que deveríamos ter previsto.
A surpresa pode ser produzida pela coisa ou pelo modo de percebê-la, como quando vemos uma coisa maior ou menor do que de fato é, ou diferente do que é, ou quando vemos a coisa em si mesma mas com uma ideia acessória que nos surpreende. É o caso da ideia acessória constituída pela dificuldade de fazer essa coisa, ou uma ideia da pessoa que a fez, do tempo que levou fazendo-a, ou do modo como foi feita ou de outra circunstância qualquer.(...)
Das diversas causas que podem produzir um sentimento
Deve-se ressaltar que habitualmente um sentimento não encontra, na alma, uma causa única. Se posso me atrever a recorrer a essa expressão, é uma certa combinação adequada de coisas que gera a força e a variedade do sentimento. O espírito consiste em saber atingir diversos escritores, pode-se perceber os melhores, e aqueles que mais agradaram, são os que estimularam mais sensações na alma ao mesmo tempo.(...)
A dança nos agrada pela leveza, por uma certa graça, pela beleza e variedade dos gestos, pela relação com a música, servindo a pessoa que dança como um instrumento de acompanhamento; mas a dança agrada acima de tudo por uma certa disposição da mente que traduz de maneira velada a ideia de todos os movimentos em alguns movimentos, a maioria dos gestos em alguns gestos.(...)
Da sensibilidade
A alma frequentemente gera ela mesma seus próprios motivos de prazer, o que consegue sobretudo pelas relações que estabelece com as coisas. Assim, uma coisa que nos agradou no passado continua nos agradando pela única razão de um dia nos ter agradado, isto é, por ligarmos a ideia anterior que tínhamos à mais recente: uma atriz que um dia nos agradou no teatro continua a nos agradar na intimidade: sua voz, sua declamação, a lembrança de tê-la admirado, que eu sei, a ideia de uma princesa acrescida à ideia dela mesma, tudo isso constitui um conjunto que forma e produz um prazer.(...)
Outro efeito das relações entre a alma e as coisas
Devemos à vida no campo, típica do ser humano nos tempos antigos, esse ar risonho que se encontra em todas as fábulas; devemos-lhe essas descrições da felicidade, essas aventuras ingênuas, essas divindades graciosas, esse espetáculo de uma condição tão diversa da nossa que a transformamos em objeto de desejo e que não está porém tão distante de nós a ponto de chocar-nos como inverossímil; devemos a isso enfim essa mistura de paixão e tranquilidade.(...)
Os poetas que nos descrevem a vida no campo nos falam de uma época áurea de que sentem falta, isto é, nos falam de um tempo ainda mais feliz e tranquilo.(...)
Da delicadeza
Pessoas delicadas são aquelas que a cada ideia ou gosto acrescentam várias outras ideias ou gostos acessórios. As pessoas grosseiras experimentam apenas uma única sensação; a alma de uma pessoa assim não sabe compor nem decompor, não acrescenta nem tira nada daquilo que a natureza oferecem enquanto as pessoas delicadas no amor compõem para si a maioria dos prazeres do amor. Polixeno e Apício experimentaram à mesa sensações desconhecidas por nós, vulgares comensais; e aqueles que apreciam com gosto as obras do espírito têm uma infinidade de sensações que os demais não conhecem.(...)
Do não sei o quê
(...) as pessoas belas raramente provocam grandes paixões, quase sempre reservadas às graciosas, isto é, àquelas com qualidades que não esperávamos encontrar e que nada nos autorizava esperar. As grandes indumentárias raramente são graciosas e frequentemente as roupas das camponesas o são. Admiramos a majestade das roupas e panos de Veronese; mas nos emocionamos com a simplicidade de Rafael e a pureza de Correggio. Veronese promete muito e cumpre o que promete; Rafael e Correggio pouco prometem e muito oferecem, e isso nos agrada mais.
A graça encontra-se normalmente mais no espírito que nas feições do rosto; um belo rosto mostra-se de uma vez e quase nada oculta, mas o espírito só se mostra aos poucos, quando bem entende fazê-lo e na medida em que escolhe fazê-lo; pode ocultar-se para depois revelar-se e provocar essa espécie de surpresa que produz graça.(...)
Como a falta de jeito e a afetação não nos podem surpreender, a graça não se encontra nem nos modos desajeitados, nem nos modos afetados mas numa certa liberdade ou facilidade situada entre os dois extremos; e a alma se surpreende ao constatar que ambos obstáculos foram evitados.
Poderia parecer que os modos naturais são os mais cômodos, mas isso é o que menos são, pois a educação, que nos incomoda, nos faz perder o sentido do que é natural – e nos encantamos quando vemos o natural retornar.(...)
Progressão da surpresa
O que torna notável uma beleza é quando uma coisa é tal que a surpresa por ela provocada é de início medíocre mas em seguida se sustenta, aumenta e nos leva à admiração. As obras de Rafael não despertam de início muita atenção: ele imita tão bem a natureza que a princípio a surpresa não é maior do que se estivéssemos diante do próprio objeto representado e que em si não causaria nenhuma surpresa. Mas a expressão extraordinária, um colorido mais forte, uma cena bizarra num pintor não tão bom nos chama a atenção de imediato por não estarmos acostumados a ver a mesma coisa em outra situação.(...)
Acontece com frequência que a alma sinta prazer quando experimenta um sentimento que não consegue compreender e quando vê algo absolutamente diferente do que conhece, o que lhe dá uma sensação de surpresa da qual não se desvencilha. Um exemplo: o domo de São Pedro é imenso; sabe-se que Michelangelo, vendo o Panteão, quer era o maior templo de Roma, disse que queria fazer algo igual mas nas alturas. E então fez, com base nesse modelo, o domo de São Pedro; mas fez os pilares tão maciços que esse domo, que é como uma montanha sobre nossas cabeças, parecer leve ao olhar. Com isso, a alma fica dúvida entre o que vê e o que sabe que é e se surpreende ao ver uma massa ao mesmo tempo tão grande e tão leve.(...)
Das belezas resultantes de um certo embaraço da alma
Pode-se observar como é grande a diferença entre as antíteses de ideias e as antíteses de expressão. A antítese na expressão não é oculta, a de ideias o é: uma tem sempre a mesma indumentária, a outra troca de roupa quando bem entende; uma é variada, a outra não.(...)
Os músicos já reconheceram que a música que com mais facilidade se canta é aquela mais difícil de compor, prova certa de que nossos prazeres, e a arte que os possibilita, se dão entre certos limites.
Diante dos versos tão pomposos de Corneille e daqueles tão naturais de Racine não se percebe que Corneille trabalha com muita facilidade e Racine, com muito labor.(...)
O que está no ponto mais inferior faz o sublime do povo, que gosta de ver uma coisa que tenha sido feito para ele e que está a seu alcance.
As ideias que se apresentam às pessoas bem educadas e de espírito amplo são as ingênuas, as nobres ou as sublimes.
Quando uma coisa nos é mostrada com circunstâncias ou acessórios que a engrandecem, ela nos surge como nobre; isso se percebe sobretudo nas comparações em que o espírito sempre tem algo a ganhar e não a perder, pois elas devem sempre acrescentar alguma coisa, dar a ver a coisa maior ou, quando não se trata de uma questão de grandeza, dar a ver a coisa mais refinada e mais delicada: mas é preciso evitar revelar à alma um relacionamento com esse ponto mais inferior, pois se ela o descobrir, o ocultará de si mesma.(...)
Das regras
Todas as obras de arte têm regras gerais, eu são guias a nunca perder de vista. Mas assim como as leis são sempre justas em seu caráter geral porém quase sempre injustas em sua aplicação, também as regras, sempre verdadeiras em teoria, podem revelar-se falsas na hipótese real. Os pintores e escultores estabeleceram as proporções que o corpo humano deve ter e tomaram por medida comum o comprimento do rosto. Mas a todo instante eles têm de violar essas proporções em virtude das diferentes atitudes nas quais tem de mostrar os corpos humanos; por exemplo, um braço estendido é bem mais comprido do que outro recolhido.(...)
Embora cada efeito dependa de uma causa geral, a esta vêm juntar-se tantas outras causas particulares que cada efeito tem, de certo modo, uma causa peculiar; pode-se dizer que a arte fornece as regras e o gosto, as exceções; o gosto nos diz quando a arte deve governar o quando deve ser governada.(...)
Prazer baseado na razão
Eu já disse várias vezes que aquilo que nos dá prazer deve estar baseado na razão. E aquele que assim não estiver, sob certos aspectos, mas, sob outros, mesmo assim produzir seu efeito, deve afastar-se dessa regra o menos possível.
Quando uma coisa se mostra, sob certos aspectos, contra a razão, e quando, agradando-nos mesmo assim por outros motivos, o costume ou o próprio interesse de nossos prazeres faz com que a vejamos como algo razoável, como ocorre com nossas óperas, é preciso mesmo assim que ela se afaste da razão o menos possível. Na Itália eu não podia suportar a visão de Catão e César cantando pequenas árias no palco; os italianos, que extraíram da história os temas de suas óperas, nisso mostraram menos gosto do que nós, que os extraímos das fábulas ou dos romances. Por recorrer ao maravilhoso, o inconveniente do canto diminui porque o extraordinário parece expressar-se melhor de um modo mais distante do natural; aliás, parece pacífico que o canto pode extrair da graciosidade e do comércio dos deuses uma força que as palavras não têm; nisso ele se mostra como algo mais razoável, e fizemos bem de assim utilizá-lo.
Montesquieu (1689-1755)






