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A transição da Antiguidade para a Idade Média é marcada por textos da Patrística (escritos pelos os padres da primeira Igreja católica). Dentre os principais problemas que se colocavam para esses pensadores estavam a necessidade de firmar a existência da nascente religião e filosofia cristã ante a tradição cultural, religiosa e filosófica greco-romana, bem como a necessidade de aliar pontos de vista filosóficos diferentes sobre assuntos distintos, porém fundamentais, como a conduta ética, a vida em sociedade, a educação, a religião e as artes em geral. No que se refere à música, esses pensadores buscaram solucionar o problema de como unir o conhecimento musical grego e hebraico aos ritos eclesiásticos. Uma vez que a Bíblia não oferecia nenhum esclarecimento, a solução encontrada foi a mudança qualitativa do caráter da Arte, ou seja uma transformação do conceito de beleza. Se até então a Beleza era pensada como algo vinculado à natureza, a partir de agora ela passará a ser divina, perfeita, espiritual e supra-sensível. Nesse panorama, a música irá ocupar um lugar de destaque. Cabe notar, no entanto, que a prioridade é concedida à música vocal, sendo que a música instrumental é banida dos cultos religiosos.

 

Como bem assinalou W. Tatarkiewicz, “a harmonia não se exterioriza necessariamente no som, mas também no movimento: a música sonora é apenas uma das formas da música. Ainda que alguns autores medievais refiram-se aos sons, outros apenas se ocupam da teoria abstrata da harmonia e da proporção e não demonstram quase nenhum interesse pelo som. O duplo aspecto da música – auditivo e abstrato – é muito mais característico da teoria da música medieval do que a da Antigüidade”.É devido a essa concepção que pensadores como Santo Agostinho podiam afirmar que “a música é a ciência do bem medir”. Como se vê, a concepção abstrata da música é a que prevalece. Derivada do pitagorismo, do Timeu platônico e de Boécio, não se limita a estabelecer uma relação entre a música e a matemática, mas transforma a música em um ramo da matemática. No entanto, já que se acreditava que a proporção, conceito central da música, não era um produto da mente humana nem uma invenção do musicista, mas uma propriedade da realidade, a teoria da música era considerada um ramo da ontologia.

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