top of page

A multiplicidade dos pressupostos estéticos da Renascença são o resultado da ação conjunta de forças políticas, econômicas, culturais e religiosas. As teorias artísticas vigentes à época foram fixadas em tratados especiais, que apareceram em grande número durante a Renascença, tais como os de Leon Battista Alberti (De pictura; De re aedificatoria; De statua), de Leonardo da Vinci (Trattato della pittura). Fora do âmbito das artes figurativas, vemos também surgir Tratados de Dança e Tratados de Música (Vincenzo Galilei, Gioseffo Zarlino).

Como bem notou Erwin Panofsky, em matéria de teoria e história da arte, pode-se caracterizar o Renascimento pelo fato de se insistir na concepção da arte como uma imitação direta da realidade. Mas paralelamente à idéia de uma imitação da natureza, uma outra idéia aparece na literatura do início do Renascimento: a de um triunfo da arte sobre a natureza. “À inteligência do artista cabe escolher e aperfeiçoar a natureza: embora exortando constantemente o artista à fidelidade à natureza, ordena-se não menos insistentemente que ele escolha na diversidade dos objetos da natureza o que há de mais belo, que evite toda deformidade, sobretudo quanto às proporções, e de maneira geral se afaste da simples verdade natural para se elevar à representação da beleza.” Assim, exige-se do artista não apenas a imitativo, mas também a electio.

 

Teóricos como Marsilio Ficino definiam a beleza ora como como uma “semelhança evidente dos corpos com as Idéias” ou como um “triunfo da razão divina sobre a matéria” (aproximando-se de Plotino), ora como “um raio emanado da face de Deus” (aproximando-se do Neoplatonismo cristão). Outros teóricos, como Alberti defendiam que a beleza consiste “numa harmonia e num acordo das partes com o todo, segundo determinações de número, de proporcionalidade e de ordem, tais como exige a harmonia, isto é, a lei absoluta e soberana da natureza”.

 

O mais significativo nesta mudança de concepções, na visão de Erwin Panofsky, é que, renunciando a uma interpretação metafísica da beleza, “pela primeira vez distendiam-se os vínculos, que desde a Antiguidade nunca haviam se afrouxado, entre o ‘Belo’ e o ‘Bem’, e isso silenciando sobre eles mais do que rejeitando-os abertamente; era de fato conferir à esfera da estética uma autonomia que só haveria de receber os seus fundamentos teóricos mais de três séculos depois”. Assim, pode-se dizer que os pensadores dessa época valorizaram a subjetividade do artista em face da realidade do objeto de arte, mas ao mesmo tempo, acreditaram na existência de leis universais que pareciam submeter o processo de criação artística a uma instância de ordem mais elevada.

bottom of page