top of page

Como bem afirma o musicólogo italiano Enrico Fubini, é bastante complexa a tarefa de reconstruir o pensamento da Antiguidade com relação à música. Com efeito, muitas das fontes utilizadas são fragmentos e, ademais, é bastante difícil distinguir claramente entre mito e história. Por outro lado, os relatos e fontes acerca do papel social e dos efeitos da música são testemunhos de sua importância no mundo grego, bem como suas relações com a religião, a filosofia, a cosmogonia, entre outros. 

 

O conceito grego de mousiké compreendia não apenas o que entendemos atualmente por música, mas também a poesia, a dança e a ginástica. Um dos aspectos mais notáveis da concepção musical entre os gregos é, sem dúvida, a ideia de um ethos musical e, por conseguinte, o papel da música no âmbito da educação do cidadão. Acreditava-se que a música não existia meramente como um prazer dos sentidos, mas que ela era capaz de influenciar profundamente na formação do caráter da pessoa, podendo promover as virtudes ou os vícios. Partindo das doutrinas pitagóricas sobre a harmonia, o filósofo Damon foi um dos mais importantes defensores do aspecto moral e pedagógico da música.

 

De acordo com o testemunho de Filolau, Damon teria afirmado que a música conduziria a quase todas as virtudes e que a criança, ao cantar e tocar a cítara, “deveria demonstrar não apenas sua coragem e sabedoria, mas também o seu senso de justiça”. Para Damon, cada harmonia seria capaz de provocar um efeito na alma, de maneira que, a cada modo musical corresponderia um determinado ethos, ou seja, um determinado caráter ou estado anímico. As consequências desse pensamento são imensas, pois, em última instância, a música seria capaz de influenciar positiva ou negativamente os costumes do Estado. Daí o fato de possuirmos seções dedicadas à música em dois dos mais importantes textos de filosofia política da época, a saber, a República de Platão e a Política de Aristóteles.

bottom of page