
In: PALISCA, C. História da Música Ocidental. Trad. Ana Luisa Faria. Rev. Técnica: Adriana Latino. Lisboa: Gradiva, 1997, p. 191.
Toscanello in Musica, Veneza, 1524, livro II, cap. 16.
Muitos compositores tinham a concepção de que primeiro devis delinear-se o cantus, em seguida o tenor e após o tenor o contrabaixo. Sucedia isto por lhes faltar a ordem e o conhecimento daquilo que é preciso para fazer o contralto. Assim, faziam muitas passagens deselegantes e nas composições, e por causa delas tinham de ter uníssonos, pausas, saltos ascendentes e descendentes difíceis para o cantor ou intérprete. Tais composições eram desprovidas de suavidade e harmonia, pois, quando se escreve primeiro o cantus, ou soprano, e depois o tenor, uma vez feito este tenor, falta lugar para o contrabaixo e, uma vez feito o contrabaixo, muitas vezes não há nota para o contralto. Se se considera a peça voz a voz, ou seja, quando se escreve o tenor cuidando apenas de fazer este tenor consonante [com o soprano] e se procede depois da mesma forma com o contrabaixo, a consonância de todas as outras vozes sofrerá com isso.
Por conseguinte, os modernos consideram melhor esta questão, como se torna evidente nas suas composições para quatro, cinco, seis e mais vozes. Cada uma das vozes ocupa um lugar espaçoso, natural e aceitável, porque os compositores as consideram todas em conjunto e não como ficou descrito acima. Quem, porém, preferir compor em primeiro lugar o cantus, o tenor ou o contrabaixo será livre de escolher esse método e regra, e verifica-se mesmo que alguns a fazer atualmente, pois umas vezes começam com o contrabaixo, outras com o tenor e outras ainda com o contralto.
De início [o método de compor todas as vozes em simultâneo] poderá ser difícil e incômodo; deve começar-se então por partes. Quando se tiver já uma certa experiência desta prática, seguir-se-á a ordem e o método previamente explicados.
Piero (ou Pietro) Aron (1480-1545)






