
In: Fábio Maia Bertato, “De Divina Proportione” de Luca Pacioli (Tradução Anotada e Comentada). Doutorado em Filosofia – CLE/IFCH/UNICAMP, 2008, pg. 48
Link: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000441656
Cap. III e pag. 11 da tradução
CONTEXTO: discussão da inclusão da perspectiva e da música no quadrivium.
1. Terminado o Proêmio, segue o esclarecimento do que se deve entender pelo nome Matemático. Este vocábulo, Excelso Duque, é derivado do grego mathematikoi, que em nossa língua equivale a dizer disciplinável e para o nosso propósito, ciências e disciplinas matemáticas, entendem-se: Aritmética, Geometria, Astrologia, Música, Perspectiva, Arquitetura e Cosmografia, e qualquer outra dependente destas. Não obstante, os sábios costumam chamar dessa maneira as quatro primeiras, isto é, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música e as outras são ditas subalternas, ou seja, dependentes destas. Assim querem Platão e Aristóteles, Isidoro em suas Ethimologiae, e Severino Boécio em sua Arithmetica. Porém, nosso juízo, ainda que baixo e i ncapaz, reduzem-nas a três ou cinco, isto é, Aritmética, Geometria e
Astronomia, excluindo-se destas a Música, por tantas razões quanto as que eles dão para excluírem das cinco a Perspectiva, ou agregando estas as quatro, por tantas razões quanto são as que agregam as nossas três à Música.
Se disserem que a Música contenta o ouvido, um dos sentidos naturais, também a Perspectiva agrada a visão, que é muito mais digna, já que é a primeira, porta do intelecto. Se disserem que aquela se remete ao número sonoro e à medida do tempo de suas prolações, também esta se refere ao número natural segundo todas as suas definições e à medida da linha visual. Se aquela recreia o ânimo pela harmonia, também esta muito deleita com a devida distância e variedade de cores. Se aquela considera suas proporções harmônicas, também esta considera as aritméticas e geométricas. E, breviter, Excelso Duque, há muitos anos tenho isso em mente, ninguém conseguiu aclarar-me por que devam ser quatro e não três ou cinco. Estimo que tantos sábios não devam estar errados, porém, apesar de seus dizeres, minha ignorância não cede.
Luca Pacioli (1445-1517)






