
Platão. Hipias Maior. In: Diálogos de Platão. Vol. II. Trad. Carlos Alberto Nunes, Pará: Universidade Federal do Pará, 1980.
298 a: Sócrates: Porém, dada a minha sede de saber, acho que não aguentarei esta demora. Tanto mais, que me parece ter encontrado uma boa saída. Escuta aqui: se denominássemos belo o que nos proporciona prazer, isto é, não toda espécie de prazer, mas apenas os que alcançamos pela vista e pelo ouvido, de que modo poderíamos defender-nos? É fora de dúvida, Hípias, que os belos homens, as coisas variegadas, os trabalhos de pintura e de escultura nos são agradáveis à vista, quando belos, como também se dá com os belos sons, a música em todas as suas manifestações, os discursos e a poesia; de forma que, se respondêssemos àquele sujeito impertinente: o belo, caro amigo, é o que nos deleita por meio da vista e do ouvido, não de parece que poríamos fim ao seu atrevimento?
Platão. Laques. In: Diálogos VI. Trad. E. Bini. São Paulo: Edipro, 2010.
188 c-d: “Em verdade, sempre que ouço um homem discorrer sobre a virtude ou sobre qualquer forma de sabedoria, alguém que é efetivamente um homem e digno do discurso que profere, sinto um profundo regozijo. Somo o orador ao seu discurso e observo como se ajustam e se harmonizam entre si. Tal homem é precisamente o que entendo por musical, já que se sintonizou com a mais bela harmonia, não a de uma lira ou de qualquer outro instrumento de entretenimento, mas estabeleceu um verdadeiro acordo em sua própria vida entre seu discurso e suas ações, não no modo jônico, no frígio ou no lídio, porém simplesmente no dório, que é a única harmonia grega”.
Platão. Protágoras. In: Diálogos I. Trad. E. Bini. São Paulo: Edipro, 2007.
325d-326c: Os mestres assim agem e quando as crianças aprendem a ler e escrever passam a compreender a palavra escrita, além da linguagem falada que era a que somente compreendiam antes, recebem obras de bons poetas para as lerem em classe, tendo também que as aprender de cor. Nessas obras, fazem contato com muitas exortações e numerosos trechos que descrevem de maneira elogiosa os bons homens de outrora, de forma que a criança. Em emulação, neles se inspire e anseie se tornar como eles. Então, também os professores de música, de modo análogo, concentravam-se mais no sentido de promover o auto-controle de seus alunos, zelando por sua boa conduta. E quando aprendem a tocar a harpa, são conduzidos ao contato com obras de outro elenco de bons poetas, isto é, os compositores de canções, enquanto professores os acompanham na harpa. Os professores insistem no sentido de familiarizar as almas das crianças com os ritmos e as escalas, para que se tornem mais gentis, bem como para que tanto pr seu falar quanto as suas ações adquiram mais ritmo e harmonia, já que a totalidade da existência humana exige um elevado grau de ritmo e harmonia.
Platão. Fédon. Diálogos (Ed. Os Pensadores). Trad. J. Paleikat e J. C. Costa. São Paulo: Ed. Abril, 1972.
60 e: — Dize-lhe a verdade, Cebes: não foi com a intenção de lhe fazer concorrência, e muito menos às suas composições, que fiz aqueles versos: sei que isso teria sido difícil! Eu os fiz em virtude de certos sonhos, cuja significação pretendia assim descobrir, e também por escrúpulo religioso — prevendo, sobretudo, a eventualidade de que as repetidas prescrições que me foram feitas se relacionassem com o exercício dessa espécie de poesia. Eis como se passaram as cousas: Várias vezes, no curso de minha vida, fui visitado por um mesmo sonho; não era através da mesma visão que ele sempre se manifestava, mas o que me dizia era invariável: "Sócrates", dizia-me ele, "'deves esforçar-te para compor música !" E, palavra! sempre entendi que o sonho me exortava e me incitava a fazer o que justamente fiz em minha vida passada. Assim como se animam corredores, também, pensava eu, o sonho está a incitar-me para que eu persevere na minha ação, que é compor música: haverá, com efeito, mais alta música do que a filosofia, e não é justamente isso o que eu faço?
Platão. Sofista. Diálogos (Ed. Os Pensadores). Trad. J. Paleikat e J. C. Costa. São Paulo: Ed. Abril, 1972.
(A segunda definição do sofista: o comerciante em ciências)
224 a-b: ESTRANGEIRO — Podemos dizer que a música em todas as suas formas, levada de cidade em cidade, aqui comprada para ser para lá transportada e vendida; que a pintura, a arte dos prestidigitadores em seus prodígios, e muitos outros artigos destinados à alma, que se transportam e vendem, seja a título de divertimento ou de estudos sérios, dão àquele que as transporta e vende, tanto quanto ao vendedor de
alimentos e bebidas, direito ao título de negociante?
TEETETO- O que dizes é a pura verdade.
ESTRANGEIRO - Àquele que, de cidade em cidade vende as ciências por atacado, trocando-as por dinheiro, darias o mesmo nome?
TEETETO - Certamente.




