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Harmonia. Trad. Marden Maluf. Ed. Unesp, 2001

 

 

Valorização estética dos complexos sonoros de seis e mais sons.

 

(...) Reconhecem-se, no som, três qualidades: altura [Höhe], timbre [Farbe] e intensidade [Stärke]. Até agora, o som tem sido medido em uma das três dimensões nas quais se expande: naquela que denominamos altura. Dificilmente têm-se até aqui realizado experimentos de medi-los nas outras dimensões e menos ainda tentativas de ordenar os resultados em um sistema. A valorização da sonoridade tímbrica [Klangfarbe = cor do som], da segunda dimensão do som, encontra-se, portanto, em um estágio ainda muito mais ermo e desordenado do que a valoração estética destas harmonias nomeadas por último. Apesar disso, ousa-se tenazmente alinhar e opor sonoridades meramente conforme o sentimento, e ainda não ocorreu jamais a alguém exigir de uma teoria que ela estabeleça as leis segundo as quais se possa fazê-lo.  Por enquanto, isso não é possível. E, como se pode ver, caminha-se sem isto. Talvez conseguíssemos  perceber  diferenças  com  maior  exatidão  ainda  se  tentativas de realizar medidas nesta

segunda dimensão já houvessem alcançado um resultado palpável. Ou talvez não. Contudo, seja como for, está cada vez mais alerta a nossa atenção aos timbres, e  aproxima-se  a  possibilidade  de  ordená-los e  descrevê-los. Com isso, provavelmente  virão  também teorias restritivas, Podemos, de momento, julgar o efeito artístico destas relações somente com o sentimento. Não sabemos como se relacional com a substância [Wesen] do som natural, e talvez nem ainda o suspeitemos; escrevemos, porém, sequências tímbricas, despreocupadamente, as quais se arranjam de algum modo com o sentimento da beleza. Que sistema serve de base a estas sucessões?

Não posso admitir, de maneira tão incondicional, a diferença entre timbre e altura tal como se expressa habitualmente. Acho que o som faz-se perceptível através do timbre, do qual a altura é uma dimensão. O timbre é, portanto, o grande território, e a altura, um distrito. A altura não é senão o timbre medido em uma direção. Se é possível, com timbres diferenciados pela altura, fazer com que se originem formas que chamamos de melodias, sucessões cujo conjunto suscita um efeito semelhante a um pensamento, então há de também ser possível, a partir dos timbres da outra dimensão – aquilo que sem mais nem menos denomina-se timbre -, produzir semelhantes sucessões, cuja relação entre si atue com uma espécie de lógica totalmente equivalente àquela que nos satisfaz na melodias de alturas. Isto parece uma fantasia futurística, e provavelmente o seja. Mas se há algo em que acredito firmemente, é que ela se realizará. E acredito firmemente que será capaz de elevar, de forma inaudita, os prazeres dos sentidos, do intelecto e da alma que a arte oferece. Creio firmemente que nos levará mais próximo à miragem refletida em nossos sonhos; que ampliará as nossas relações para com aquilo que hoje nos parece inanimado, dando vida com nossa vida ao que de momento é morto para nós tão-somente em razão de um insignificante vínculo que mantém conosco.

Melodia de timbres! Que finos sentidos os que aqui diferenciem! Que espírito sublimemente desenvolvido o que possa encontrar prazer em coisas tão sutis !

Quem aqui se atreve a reclamar teorias!

 

 

 

 


                                             

 

 

 

 

  Arnold Schoenberg (1874-1951)

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